terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sons de Y

Fibras óticas e titânicas
Sinapses robóticas, diletantes
Sistemas acéfalos, dominantes
Geração paralisada, pandemia ignorante

Em discursos, bares de argumentos ébrios
Conheço pouco a pouco tuas virtudes
Supra leves, de tão vazias
Tão livres, pois em ninguém habita

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Minha Forte

Vem e suga meu sumo
Toca-me vertigem
Adoça-me ao desesperar
Me humilha, ao me abandonar

Maravilha, vendo toda a vida
Num olhar de escotilha

Vem, me desperdiça
Me vende
Mas tem que bater e apanhar
Marcar

Ser o inferno e o meu bebê
Que dorme e baba

Adorar o teu imperfeito óbvio
Que me desafora
Vem, me cobre de medo
De te perder

Transborde em mim
No que eu lhe derreter

Vem, mas venha decidida e má
Me olhe, e não desvie o olhar
Dinamitando o meu ar
Vem, que não aguento te esperar

Venha, meu delírio
Sede tua, sem razão

Vem pra me assustar
Mãe dos meus filhos
Brinca no meu labirinto

Fiz todo pra ti
Venha contra o mundo

Vamos nos expandir

Sampa Nua

Tais ruas, cultura tua
Me encanta, flutua em dança
Retro-vícios, sua inanimada grua
De quem se cansa

Esperança, da fração tua
Que me alcança

Vai-te sampa de minhas solas
Contornas concórdias, implode em hitória
Contadores de tais trovas
Não me importa sua corsa-escória

Sua gente tangente
Das esmolas

Sua intrínsica doutrina
Aos Quasímodos, nati-morta
Do que ainda restou, traz-me
Um pouquinho, um quase nada

Que meu toque sentiu e gostou
E a toda prova resiste

Platônica forma de atração
Que me insiste
Vou, mas não te largo
Voo e no voo

Te vejo nua
Do espaço

sábado, 10 de outubro de 2009

Oca

Segure a minha mão
O tempo já se exclúi
E não pude mudar minha decisão
Só não me morda

Mas segure forte, por que o mundo vai balançar
Não solte a minha mão
Ando pensando, aqui e ali
Se é o mundo um desencontro

Um planeta ou uma bola, que brilha
Uma estranha atmosféra, um vulto opaco, e um paraíso
Ruma incerta, e é o Sol que lhe segue

Se não se auto destrói
Vão tirar tudo debaixo da Terra
Traz cá pra cima, deixa oco, desconstrói

Inumeras guerras
Inúmeras danças
Inúmeras plantas

Esta tudo fora de controle, como eu gosto



set/09

A Soma dos Excluídos

No Rio que eu vivo
Eu vejo coisas que não entendo
No Rio do Rio mais real, que o Rio triunfal
Há o Rio do Rio que é podre, triste e mau

Há no Rio que descubro realidades que me doem
E matam o bem querer que há em mim
Há muito mais do que imaginas, se o Rio que lhe chega
É o das páginas das revistas, fantasiosa realidade, filha da puta e maldita

Rio, onde os trabalhadores merecem tiros
São pobres... e sonhadores de seus direitos, furtivos
Rio, que eu desejaria na minha mais maligna perversidade destruír
Seus políticos boçais e eternos, e policiais legitimados pelos infernos

Rio, preciso te dizer, Rio abaixo de meus pés
Seus filhos não se entendem, andam se matando, há uns poucos bons em fuga pelos bordéis
Capital mundial da putaria santificada, por igreja e mídia forçada, doem na cabeça sacrificada
Rio outrora belo, que enterres todo elogio nessa chorosa mágoa

Enquanto bater, chutar e forjar gostar de teus retíntos que se movem por trens
Vou querer fugir, e continuarei a odiar, os esquemas que tens
A beleza restrita a sua classe de auto-convícta nobreza, Rio, você acabou
Banal em violência e tragédias mórbidas, fique com seus zumbis errantes em inglórias

Que se atropelam, se desprezam, pequenas cabeças de merda pulsante
Não tolero nem mais um instante esse modo de vida, de achar desculpas para tudo
Arrogante, desejo-lhe um foda-se bem grande
A ti, e aos que não gostaram do que leram até o instante

Vivam pois, com suas sub-rações e pseudorezas, com suas ruas de lixo e de flores sem terras
Vivam boiando se sentindo numa quase paris.losangeles.lisboa.recife.londres
Que digo-lhe, não és, não tanges
Sei que não me expresso bem e que sou claro até demais, anseios duplos, os tais

Estudantes, governantes, intelectuais, artistas, pais de família, ignorantes marginais
Vou te buscar Rio, no mais profundo, tenso e sinistro, obscuro submundo
Onde dia após dia sua massa de heróis ruma, a sacodir, ao destino de trabalhar
Sem ver belezas, dinheiro, ou mínimo indício de orvalho

Abraçam-te Rio com os próprios braços
Não os de cimento, esse é gesto fácil
Mas com músculos que se esvaem ao tempo
Fibras do cansaço

Rio, não sei se você vai me entender
Mas o melhor de ti, está por se desvelar
Já existe, sufocado, quase morto sem ar
Afoga Rio, teus filhos imundos no teu mar

Afaga no peito, a soma
De teus excluídos
Que ruma obediente
E que insiste em te amar

09/10/09

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fazendo Nada

O poeta tem que ser solto
Tem que desgovernar pensamentos
O poeta tem que ser livre
Tem que desdizer o posto dito

O poeta tem que soltar os cães
Tem que multiplicar vãos tormentos
O poeta tem que confundir argumentos
Tem que amar e desamar

O poeta tem que se perder em fragmentos
Tem que engolir sentimentos

O poeta tem que escrever pra não ser lido
Tem que negar tudo que digo

O poeta tem que se acabar e acabar-se em si
Ou fazendo nada ou algo bonito

03/03/2009

domingo, 4 de outubro de 2009

Onde Me Levo

Se te quero
E se não quero
De um verbo
Sou incerto

E por onde me levo
Te quero perto

sábado, 3 de outubro de 2009

Animalzinho Errante

Vou me limitar a rastejar pelas ruas
A encontrar, sem medo, dicotomias tuas
Vou preservar meu tempo, ilusão maior meu momento
E gastar esforços para o que não vou ser

A quem quer que seja
Que me leia ou que me veja
To esperando um canto
Mas talvez não esteja vivo, nem seja humano, quem o diga, santo

E pois como estou, apático, inapto
Sinto que vomito por dentro de mim mesmo
Quero colo de irmã, e te ver nos sons de Amsterdã
Vou-me embora,mas fica você, aqui e agora

Vou indo, despedida não demora
Me espera anjo tão mais mortal, de uma outra pátria
Quero ir sozinho, sem destino, sem vanglória
Ir, pois há qualquer submundo que me espere

Travado, Outubro deflagra, meu cerne
Nove meses para que eu renasça em ventre próprio
Quero morrer de amor ou frio, vou e me crio
Mas não fico, para te ver de novo, em espelhos e reflexos

Estarei completo, entre abutres e lixos diversos
Não quero, seu mundo eu não quero
Daqui já vou indo, um tipo de animalzinho errante
Que só quer engolir o mundo e ver o tem adiante

01/10/09

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Se Prepara

Não há melhor momento para uma notícia do que
O quanto mais perto ela estiver de seu acontecimento
E se quando ela aparece, de uma bruma, assim que amanhece
É um corte fundo, temos um problema em Abril, o ano de 64 não vai nada bem
Acontece... é meio que um não pensar, surgiu o dia, o Brasil estremece

Vida transformada assim, o todo fica encolhidinho
As músicas sublimadas, engessadas na brancura suja da caverna
Complicadas parar virarem hinos, e os hinos nas marchas-camadaras
Se olham, velho e filho, com realidades unificadas.
Tantos voos pra fora do país, e nenhum nos levaram

Dona da verdade, fixa desconstrução da liberdade
AI-5 de meu Deus, numa cabeça cansada demais
Do sol que é demais cascudo nas terras deste agreste
Um bloco de mármore flutua sobre o povo
Andam se contorsendo pela culpa alheia e mútua

Mas é de causar espanto, debaixo de chuva grossa, desse pranto
Somos nós povo que se veste, foge, urra, se esquece
Fevereiro tomamos de volta toda música e rua que coubesse
A máquina dos generais, lá por trás, planaltos acima
Finge que nos conhece

E como nunca, de um jeito estranho, mudo, surdo, seu povo Brasil
Faz de encontros abraços, há anjos e loucos nas ruas
Os grã-finos se beijam, o povo do morro desce
Com sal nos corpos, riem, sorriem, se curvam, reamanhece...
Não se usa estresse, o sambódromo que ainda vai existir

E os novos baianos saem da tese, reverberam carnaval
Misturam-se qual som que se preze
Fazia o mesmo calor de hoje em dia
Mas aquela foi a velada abstração que podíamos
No inignorável grito de tua lágrima que desce

Esse amor, coisa que não se explica, suas cores auri-verdes
Que a tantos simboliza
Ali guardou momentos cinzento de evasiva paz
Em domínios delicados por demais, sob duras penas
Arrastou pra euforia tal moça e qual rapaz

Se largaram na folia, envoltos de amnésia-fantasia
Libertária primazia, acordaram sem chão
Na quarta-feira de cinzas e azia
O ano começa no jargão, retomemos ao trabalho
Segue escravo o Brasil diário

Liberto na música, prisioneiro involuntário
Socorro pede o maquinista ferroviário
Ajuda, suplica o motorista, eu boia-fria virei um coitado
Minha história se confundiu na grande cidade
No pequeno país que somos, individual ingenuidade

Em pandeiros se subverteu o estabelecimento
Do regime, ou se diria, daquele crime
Que agora ninguém cometeu, mas que em sua época
Era líder e se faziam reverências
Minha mãe e pai viveram isso, e por isso

Eu cuspo no seu parágrafo de palavras vazias
Brasil que ainda hoje
Que ainda dorme!
Acorda e se levanta
Pra vida!

Leva seu filho e filha
Pra escola
E se prepara
Para entrar
Na avenida!



18/9/9

sábado, 5 de setembro de 2009

Tudo em Ti Que Terei na Vida

Contrapartida de teu mundo, contraditório ocidente
Constrõem máscaras, música e livro
Ausentam o que se sente
Foi tanto tempo, tudo invenção, coisa de amor
Mas que é de mente

Não releia agora, não viva, não tente
Só te confundo, por que acho que combina
Tais escolhas minhas, com sua demora
E te escrevo de agora, por lhe ter
Ainda não no presente

Mas em um lugar que irá me levar
Embora súbita comparação de tudo
Que não entendo
Com teu lugar no futuro
Meu domínio

Seremos o tempo trocando palavras
E os rumos
Por anticópias de propostas que não li
Transformarei de tudo um pouco
Do mundo que vivi, que escondi

Pois foi tudo
De erro cômico
A acerto irônico
Que não correspondi

Passo por luzes que clareiam as tardes
E teoria sem dúvidas tristes
De tão covardes

Foi o mundo que eu abracei
Floreado de filas, de complexas maravilhas

De amigas e de tudo em ti que terei... na vida

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pra Sol

Seus braços abertos assim...
Sinto teus raios
Teus olhos apertados assim...
Amor de criança, de ser amado
Sorriso gostoso e como é bom sentir teu abraço
Tuas ruas, tua vida, coisinhas tão tímidas
Seu tamanho de astro, sua imponente grandiosidade
Que não acho na minha estrada
Sol, carrego você e tua voz na despedida
Num lugar tão dentro, posto que tão querida
No meu coração não há mais espaço
Não deixou brechas, não existe mais saída
Sol, ser que agora dorme ou brinca
Te amo como teu irmão que não existe
Teu mano, como você me diz
Anda pela vida vai
Leva consigo toda felicidade que lhe for concedida
Porque és flor, és menina,és luz, és maravilha
Não te esqueço, apenas não apareço
Pois este agora é o preço
Mas por ti fica meu apreço, meu anjo, meu lugar bom
Sou todo um novo que não me conheço
Acordo agora nos dias sentindo falta
Mas corro para rua e nos teus braços
Sol querida, feliz sorrio, quando me aqueço

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O A S I S

Sem partido, sem abrigo, sem um chão, só um sonho
De onde começamos, da virtualidade de onde não estamos
Sem limites ou países, sem bandeiras ou matrizes
Só nosso peito aberto para abraços e convites
Oasis não é ONG, não é dó, nem piedade
É abraços e amor imensurado
São crianças, mulheres e esses loucos
Que parecem cegos e surdos aos avisos dos que não nos conhecem
Do pessimismo, fatalismo, assistencialismo de si mesmo
Algo novo, que rompe, que sonha, que vai no belo que se esconde
Que bem trata a sua vergonha, e com ela some
A espera no antes
A espera no quase
A vertigem no se
A origem de um oasis
O Brasil, essa completa "miscigenagem"
Acaba que distancia seus filhos
Uma robusta nação que não se sabe
E agora nesse choque, mão no rosto, esse toque
Ruas de pequeninas cidades, gente acanhada, sonha escondidinho
Mas no que ouve esse repique, que jogamos pro ar
Foge do seu medo de buscar, começa a se juntar
A compreender onde podem chegar
É puro cada olhar, comunitaria abstração do não vai dar
Correm doidos pro alcançar, e abraçam forte, forte depois de dançar
Calor humano esquecido, varrido, caco moído, mas não aqui, não agora
Pois disso já me cansei, não aceitamos o nada sei
Soberanos de si mesmos, povo que também é rei
Lagrima feliz, bagagem de aprendiz, bicho solto por toda vida
Gosto bom de toda cicatriz
Alma leve, estadia breve, amigos que nunca mais verei
Mais raros que ouro, que nuvem, que neve
Crianças multiplas, irradiando absurdos
São os seres menos confusos, esperando futuro que os leve
Oasis me ensinou, antes de me ensinar
Oasis replantou, antes de replantar
Oasis voou, sem asas, pelo mundo
Que vai começar.


Teo Petri
26/07/09

sábado, 27 de junho de 2009

Liberté

Vivo
Não que eu esteja entendendo
Mas vivo, mais por me fazer
Do que pelo o que acabo sendo

Neste momento me pego atento
À esta infinidade, meu cotidiano
Nesta São Paulo, metrópole de nome santo
Na Curitiba, em que estou me levando
No Rio, de pai e mãe me esperando

De meus olhos
Vista seca e convícta
Que me firmo em Brasil
De Guanabara ao Guaíra
Passando pela Paulista

Me amo brasileiro
Conforto miscigenado de um país inteiro
Ao morrer, terei meus dias
Pra te dar, país meu

Coberto, por meu peito aberto
Eterno, meu avô, pai, filho e neto
Meu inverso, terminal fronteira do universo
Seus poucos cientistas e poetas

Seus contornos atlânticos e amazônicos
Pampas, carroças, inédito Pantanal
O Sertão, nada mais nordestino
Amor que não se evita, indefectível armadilha

Para alguém como eu, indiozinho pós-moderno
E todos meus sonhos de menino
Igualité meu carnaval
Liberté me cubra em manguezal
Haja fraternité na falta de moral

Lisboa que seria do Brasil
Se amanhecesse no Senegal

Estrameço na babel que é meu berço
Envelheço, no piscar de olhos, em segredo
E me esqueço, do que, suposto, deveria ser



23/06/09

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Minha Cidade

É onde estou...
Esta cidade não tem nome
Não lhe deram, pois não lhe coube
Tem agora vinte ou trinta habitantes
Olho para eles, me encontro, não há mal assombro
Os escuto como um menino novo, que se assusta com todo tombo
Eles falam como eu desejo falar, escrevem e contam de novidades do mundo
Fazem existir essa cidade, e vejo que agora , moro aqui

A cidade esta enchendo, crescendo
Se estou surpreso? nao, nao por isso
Eles vao chegando e a cidade esta ficando bem cheia
Somos e me sinto como eu uma taba, um oásis, uma aldeia
Esta mesa grande que há no centro tem braços elevados por todo o mundo

Escuto historias e vejo caras, que nesse momento entendo, são o meu destino
Subitamente, por acaso, vim parar neste macrocosmo pequenino
Coberto de vontade, dúvidas e curiosidade, vou ficar no meu canto, aprendendo
Com os maiores, seres já fortes, o que eles vieram me contar
Completarei meus dias fora daqui com saudade, dessa tal cidade
Cidade de múltiplos, de um tempo sem fuso
Cidade única no mundo, sem dono e sem rumo
Cidade minha, cidade sozinha, no meio das tantas outras lá de fora
Cidade que me faz ver o que vejo agora
Cidade que nao diz onde irá sua história, estou bobo, estou roxo, nao tenho sono, me sinto teu dono
Nao irei alem do que já disse, pois cidade minha, vc ja existe, dentro de seus filhos efêmeros
Seres que nos sabemos, voltarei em uma nova, e trarei algo de ti e levar-te-ei para longe daqui

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Por falar de amor onde está você II

Por falar de amor onde está você
No vento de uma flecha
Numa vida curta, luz estreita, de uma brecha
Meu coração que bate seco, posto seu último beijo, em minha testa

Mas já agora ano novo, me vejo envolto
De um sonho novo, mergulho surdo e corro louco
Bandeira branca, faço da paz um pouco

Atômico descaminhar, é lento sufoco
De uma humanidade do sem pensar
Do te quero morto

De poderes que condizem, e que não me envolvo
Me crio solto
Mas tomo soco, buscara sol e uma amada, tanto e tão pouco

Não há diálogo ou comédia, se o mar, revolto
Meu Brasil é Espanha nos museus, e Jamaica sem almoço
Somos casas entre árvores. mas sem último reboco

Somos músicas copiadas, altas, tanto que nem ouço
Somos narizes finos, estéticos, e dedos magros, no osso
Somos de outro dia, na chuva criados, fodidos
Somos pintura sem esboço

Somos Lampião e Zumbi, somos Zé do Caroço
Somos romance, menos chic que o tango argentino, somos o fundo do poço
Somos meninas nas estradas, vendidas por um troco
Somos Ney, Cazuza e Renato Russo, bichas assumidas, anjos roucos

Somos a mídia fingidinha, somos normalzinho, povo escroto
Somos o transtorno, caos urbano, religiões de consolo
Somos bostas, vivemos de costas, cheios de não pode
Cheios de não mostra

E seguimos sem pincéis, amordaçados
Somos atores sem papeis
Somos o trigo que nunca vira pão
Somos o senado, a política, o caveirão

Somos exóticos seres dos trópicos
Somos o País Ipanema
Somos Yemanjá For Export
Somos o seio e bunda de Iracema

Somos um pouquinho de cada curva do mundo
Somos um bebê lindo, somos a dama e milhões de vagabundos
Somos rendidos, somos arrependidos
Não somos americanos, não fomos o povo escolhido

Não somos o primo ariano, não somos a prima Uganda
Somos corte, somos sorte
Somos Pindorama

Somos esse amor forte
Somos quem esquece de amar
E somos quem nos ama

Somos o ainda, o antes, e o além... da morte

domingo, 19 de abril de 2009

Janeiro do Rio

A Vila
À Teresa
A Santa
À Isabel

Os Blocos
As Escolas
De Rua
De Samba

O Baile
O Copa
A Cabana
O Funk

A Bossa
O Bota
A Nova
O Fogo

O Redentor
De Açucar
O Pão
De Cristo


A Cidade
O Complexo
De Deus
Da Maré

A Praça
Chinesa
E a Vista
Seca

A Laje
Do Brasil
O Parque
Central

A Beleza
É Imperial
E Natural
A Capital

O Poder
De Raiz
O Samba
Paralelo

E a Mata
E o Oceâno
Unicamente são de um Rio

Ao Tempo que
Atlânticos

Assim Eu Vou

Nascido no Brasil, criado no calor
Não veio preto, veio branco, mas que misturou
Cresceu no meio do samba, foi o pai que levou
Ainda na manhã da vida cantei pra Xangô
Mas que o mundo gira, e dali ele se mudou

Foi crescer solto, conhecendo mais de peixe, de fruta, de flor
Numa cidade pequenina, onde veio lua e o mar entrou
E foi ali que ele pousou, materno bangalô
Esqueceu do mundo, descalço o menino brincou

Deixou a vida se encontrar, em paraty que ele amou
Achou amigos, que mudaram o que eu sou
Cosmopólito fim de mundo, amor e arte herdou

Para cada casa que os olhos passou
Notou beleza, que o tempo deixou
Para cada pedra que pisou
Um amor que ele prendeu e um que ele soltou

Dança das fitas, bonita, brincou
Em Cirandas, cachaças, noites que derramou
No Carangueijo caiçara , tal ela, qual bela rodou
Na eletrônica, das praias, incríveis dias raiou

Mundo complexo, diferente, encarou
Saudade
Do povo, de casa
Amigo que foi cedo, chorou
Subindo em galhos, nadando com peixes, nunca acordou

Nas canoas, em Fortes Perpétuos
Calçadas que o mar lavou
Carnavais de máscara
De lama, de graça, um garoto piêrrot
De Festas Literais, poesias ao amor

Sobe e desce pipa do céu, nuvem pro mar
Ouro da serra, viola pro bar
Amor que nunca mais se vê
E que vive a se encontrar

Agora não tenho cana pra beber
Nem telas pra pintar
Agora não tenho tardes a te ver
Cidade do meu sonhar

Não tenho suas festas
Nem seus filhos
Ao meu passar

Agora... lembranças
E uma certeza

Paraty
Quero voltar

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Fugitivos Na Mata

Fugitivos na mata
Bebem água que chove agora
Faca, bala, substantivo de arma
Casa, roupa, constituintes de horas

Brasileiros em um sócio-exílio
Tais os pobres na megalópole
Pulsam em vida no silêncio da fome
Buscaram os muros de um castelo que vende o que se consome

Mas não nesse março, não era mês pra isso
Não esperaram a lua fazer contorno
Algo como de um místico agouro

Deitam agora na mata que lhes guarda
Olham essa noite, suas luzes e o eterno cristo
Descansam suas almas e agarram suas chances
Podem morrer numa tocaia se pisarem na avenida


Sonam na espreita da morte, bandida
Ruma moça, garimpando ipanema, solstícia
Os segue nos entornos, e os mantém aflitos, afoitos

Não sabem se verão mais outro sol se pôr
Se virá ainda um novo amor, vida a frente
Se terão o poder de mudar o que são
Ou será que tudo que são, foi mudado
Quando eles já não tinham opção

Pois o Rio, essa formosa babel, catalisa amedrontamentos
Me salva só Cartola, cantando momentos
De um violão de lamentos
Que me deixa vadiar noite adentro, a me ensinar
Que pudor nenhum vai subtrair o meu viver

Mas é um grunhido, um sem-nome, supôr estar lá nesse momento
Num reality show muito mais que real, dentro da selva tropical
Em fuga, reclusos à tarde, embaixo da chuva
O plano errado, do mundo errado

Plantados numa árvore, prontos para entrarem em cena
Copacabana de cinema
Tuas bandas, teus blocos
Tuas bundas, teus poemas

Teus latino-americanos de sub-renda
Princesa, de um povo auri-verde
Do ouro, que é o que buscavam, antes da fuga maldita
E do verde, que é o que acharam
Floresta de braços abertos, bendita

Problemas conectos
Por uma cidade-dilema, ambígua
Trai e ama, famélicos e cyber-céticos
Contornos de paisagens, antiéticos
Favelas de duração etérea
Onde nada é para sempre

Lições de um poder canibal
Onde não vejo o bem e o mal
Onde me mudo
Meu mundo
Onde quase surto

Numa virgindade papal
Numa castidade puta, irreal
Meu quebra-cabeças natal

É demais desigual
Tem seus filhos na mata infernal
Um labirinto sem começo e fim, natural
Me diz o que fará deles?

Te observo, passional


(30/03/09)

sábado, 28 de março de 2009

Hermanos

Nem nossas vidas que se tocam
Nem todo desentendimento
Nada, de nenhum momento
Estará a frente do que eu vivo com vocês

Destas ruas trancadas pela história
De cachoeiras pacíficas e de mares atlânticos
Tudo que construimos e contruiremos
De cá, coração meu tão aberto, começo, recomeço

Como em todos os dias que me flerto, aberto
Com o tempo que contempla, completo
A nossa vontade

Ao que entendo, no nosso mundo, na hera do anormal noturno
Rodo o mundo, mundo que delato
Terra, que sobre si mesma, se dilata

Contemplação da esfera minha, sozinha

Niemeyeres

Sobem, muitos goles
Me retorna uma enorme lembrança forte
Na noite que rompe, de tudo, rosto e nome
Se consome
Coquitel Molotov, religo o meu Engov

Bolso, fruto, fluxo
Dilemas, poemas, tormentas
Abraços, exatos, contatos
E o calor, o arrepio, noite cega

Sou quem me crio
Sonares de heterogenia
Tantas são as lapas
Guardam noites de amores, as praças

Reclinam olhares de fotógrafos, regatos
Brasil de climas cifrados
Guarda e deixa dormir tuas praias em sono leve
Encoraja-o, porque seu povo, de misturas

Com fome, sorri tudo que pode
São simples
E bela gente
Niemeyeres aos máximos


(16/03/09)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Por Falar De Amor, Onde Está Você

Por falar de amor, onde está você
Toda doce, gracinha, onde está você
Falar de amor, falo, mas olho mais, mais pra te ver

Nunca foi, nunca fui, mas tenho o tempo pra prever
Amor em folhas, amor em esperança, em criança
Amor ao boi, amor que flui, amor yo soy, amor seduz
Amar em par, amar no bar, amar e não estudar, ah mar...

Amar nos dói
Amar constrói
Amar em solidão, em paixão platônica
Amar bossa nova, samba, mpb e eletrônica

Falo aos poucos, um pouco de tudo
Mas é quando eu falo o quanto amo
Que entendo quanto amor possuo
E se me gosto e me assusto

Em ti me posto e protejo as guardas tuas
E todo carinho que à esta ninfa esmero
Se fará sentir, amor, contração maior e arrepio
Divisão de tudo na vida em sua função

Falar em amor, já falei
Amor é que se diga, mas o belo é que se faça
Amo e pergunto, amo e te peço, para mim

Eu te quero, amor não nego
To perto, do absoluto
Amor completo

Acordei amando
E amando te achei
Mas alguma coisa acontece
E meu coração surta, desobedece

Fica louco, faz qualquer jogo
E numa dessas noites você aparece
Toda leve, ainda não me conhece
Rainha da colônia da minha espécie

Ama nua, de flor em flor
Elogios e loucuras
Mais as noites de verão

São tortas, como portas, como notas
Ou derrotas
A memória

Essa senhora da história
Em recaídas ou em glórias
Mas em ti eu vi, minha maior vitória

Estranhos, em flagrantes rebanhos
Pelos cantos se aglomerando
Não compõe imagem, não agem, alguma outra viagem

Rebelar-se-á

E uma cachoeira de emoções já terá percorrido nosso mundo
No momento após em que algum de nós, calar
Desse amor pelo qual fico dias sem falar
E que já falo sem poder explicar



25/01/09

Beijo Anti-beijo

Declaro
Sou gago
Tenho vícios
E tendo a libertínios

Jogo sujo, sem banho durmo
Odeio meio mundo
Não rio, detesto
Me quero rotundo

Aos 20, convícto de que não presto
Resolvi temer a mim
Duelo em que me fecho
Dos climas já nada honestos

Dos cinzas, das trincas, das lamas, não camas
Dos quase dramas
Pois já não servi, já "não" o antes "sim"
Frente em que não há espectro

Calada convulção convexa
Trema problema, anexa
Me assopra tormentos metálicos
Me envelopa destinos diários

Me capota aos comprimidos ótarios
Minha pupila de olhos secundários
Meu gosto e cheiro, meu espelho
Sou em cheio um erro feio

E o que trago de pior em segredo
É pois tentar, quando ao sorrir
Não te ver, de sempre fingir não notar
E tudo piora quando então supões me olhar

E da infância ela vai rir ao lembrar
Algo que tentamos
Mas não conseguimos...
O anti-beijo




14/01/09

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Para Pamela

Vejo hoje o fim desse novembro
Efêmero, compasso em relento, desprendo
Dias através dos sonhos meus, e um amor que brota amizade
Uma linda luz que vi surgir, ninguém mais que ti

Um anjo da simplicidade
São o por-do-sol e raras moradas, excentricidade
E o que são cidades, o que são idades?
São letras nas cartas, números sem falas

Eu sou um cão e um gato, vivo o mundo abstrato
Querendo ser negativo e vivo retrato
Ser um todo de menino afim de buscar seu cabelo em fitas
Nos jardins idealizados de seus deuses, e na fome que vaza das tripas

Busque o silêncio como uma princesa da selva
Olhos abertos, enormes sobre o mundo
Tens todo amor, dom maior e mais profundo
Se fez estrela em minha vida, brilhante de uma forma que pra sempre

Minha intocável irmãzinha, paixão de menina atrevida
Estou numa madrugada onde não bate o tempo
Fixas idéias em que sou o vácuo de meu templo
E você um leite morno, que mãe alguma traz mais doce

Não és uma em um milhão
Ès uma em todos os tempos, o deus em vão
Há um mundo que você não supõe, acredite
Mas o que fica são os sonhos vividos, imaculada afrodite

Por cada gosto de fruta em sua boca
E sons que te fizeram dançar, momento maior, alma solta
Cada sono abandonado, cada ilha que chegou a nado
Cada noite, cada sol, um passarinho de sua infância, e todo amor de namorado

Nada virá a toa, haverá calor e mais sabor
Ainda que garoa
E nosso tempo já voa, desse tempo de se encontrar em clarões
Virá a vida boa, e serás a primeira a saber que felizes

Ficamos, todos nós, ao ver que um dia, todo céu se abraçou
E a nova amiga é a Pamela que o Teo achou
Uma única razão que se basta
Pra viver feliz

Acabou




Te amo, amiga linda. Beijos pela eternidade!
Teo

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Daquele Azul

E já não importava mais no que daquele
Azul que vinha o céu
E no seu tempo de contar em fases, loucuras tenazes
Doçuras, de passatempos do que seremos

No rever dos dias que sabemos
Da sabedoria de fechaduras, de dormir em dor aguda
Mais que luz menina pura, pois de seus timbres
Saem vestes que me atingem

Por um sabor, de desenhos construídos de pavor
Pois tanta e fervente dor
Que permanecem em festas

Subvertem maneiras, se entr'escapam por todas frestas
Mas... me lembro
Qual saliva venera a vista, modesta



12_2008

Te Esfarelo-me

Na sua situação eu não teria qualquer hesitação
Na sua idade não teria qualquer piedade
E tal face, tal elo, qual belo, já fascinante olhar seu
Que forma o rosto singelo

Mas sua boca, de última infância
Tem bolo,e se sai bela, onde não haja sido vista
Toda suja, e de pães que tu tornas
Farelo...

O Barco

No meu barco
Desenho um arco
Há uma preguiça fina
Nesse vento fraco

Os desenhos se fundem
E pensamentos eclodem
Dois versos e um risco, se movem
Me seco no salto intrépido das nuvens

E cada imagem que forma um rastro
Me guia marejado, e da popa que fiz, já vem um mastro
De uma bolha de meus sonhos surge cativa
Você, cabelos no vento, simples alteza, formosa bandida

Destrói tudo que criei
O verso engasga
A aquarela, tão bela vela, se rasga
Por ti foi o mundo, e já nada sei

Meu barco afunda
Num minuto minha vista inunda
Foi-se o amor nas cínicas águas turvas
No fundo do mar encontra-se meu barco

Um baú que vive aberto
Cheio de água, só que vazio de coisa alguma
É vácuo, no máximo casca
E sinto um calor, que no peito retumba


23_11_08

Vapor Contrátil

Vida é pouca
E a fibra
Já rouca

Todo beijo, toda boca
Todas as noites que juntos,e num quase nada de roupa
Bebemos e damos de beber aos nossos corpos

E não importa
Guerras, enjoos e destroços
Ainda que seja pouca a vida

De puros e excessivos remorços
E o que fica depois?
De quando nada mais houver
A se dizer

Humanos em seu próprio vácuo
Contrátil, Portátil
De nosso calor versátil

Nada ficará
Só esse deus, que eu não acredito
Curtindo depois de todo mundo

E o azul...


07_10_08

Vestido de Joana

Pois te toco as mãos
E pôe-se a rodar
A coisa vista mais bela
Joana com seu vestido

De flores amarelas
Travando o mundo
Até o sub-mundo
E o terceiro mundo

E eu acho que até todo o mundo
Mas eu, não consigo simplesmente
Deixar...
Te ver passar

E não querer
Perfeita ela, toda ela
Julgou ser minha dona
E agora...

Entre nunca mais e agora
Me beijou
No meio da noite é lindo
Ver o dia nascer de fininho

08_12_08

Vestido de Dezembro

Surge isento
Lépido, cético
Seu vestido... pela rua
Já o trouxe, dezembro

Me esquivei de quem vinha
Já passava prum nervoso comedimento
Sem talento
Troquei de calçada e nem percebi

Foi um encontro e um lamento
Barcas n'água e ferrovias me dirão
Tão tolo, se furta em núvens
Sorrirão às gargalhadas nas madrugadas pelo Rio

Ela dobra a esquina, e você se move
Corre, controle, senão some, qual o nome?
Seu jeito, é pura dança
Mas em ti, o nada é tudo

Que me alcança

Onde se esconde?

Não há nada nessas ruas neste exato momento
Nem há nada pelos campos e praças
Nada nos casacos, nada nos teatros
Umas rápidas imagens, nessas telas-bobagens

Há um mundo de ferragens, e um mundo das paisagens
E cada naufrágio faz um recomeço
É como na infância acreditar no desejo
Sem saber que se pode errar

E sem mágicas ou regras pra vida
Mas...Quando é meia-noite, bate em mim meio-dia
Eu acordo em meio a multidões nas tardes
E já não vejo onde se esconde
Maldita arte, covarde

Agosto de 1985

Final do mês, mês de agosto, do ano de 1985
Saiam duma ditadura intoxicante os jovens desse país
Do Brasil cinzento, de sombras, amargo momento
Era ainda o rompimento, do que seria um novo tempo

E entre rodas de violões e peças de teatro
Floresciam novos argumentos, libertava-se um brasileiro nato
Nesse fim de mês, ao fio do inverno, no meu recato
Fui sair do frio eterno de não existir

Em parte um plano
Um todo abstrato
A barriga de mãe é um portal de mundo
E me fiz nesse hiato

(11-09-08)