segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Minha Forte

Vem e suga meu sumo
Toca-me vertigem
Adoça-me ao desesperar
Me humilha, ao me abandonar

Maravilha, vendo toda a vida
Num olhar de escotilha

Vem, me desperdiça
Me vende
Mas tem que bater e apanhar
Marcar

Ser o inferno e o meu bebê
Que dorme e baba

Adorar o teu imperfeito óbvio
Que me desafora
Vem, me cobre de medo
De te perder

Transborde em mim
No que eu lhe derreter

Vem, mas venha decidida e má
Me olhe, e não desvie o olhar
Dinamitando o meu ar
Vem, que não aguento te esperar

Venha, meu delírio
Sede tua, sem razão

Vem pra me assustar
Mãe dos meus filhos
Brinca no meu labirinto

Fiz todo pra ti
Venha contra o mundo

Vamos nos expandir

Sampa Nua

Tais ruas, cultura tua
Me encanta, flutua em dança
Retro-vícios, sua inanimada grua
De quem se cansa

Esperança, da fração tua
Que me alcança

Vai-te sampa de minhas solas
Contornas concórdias, implode em hitória
Contadores de tais trovas
Não me importa sua corsa-escória

Sua gente tangente
Das esmolas

Sua intrínsica doutrina
Aos Quasímodos, nati-morta
Do que ainda restou, traz-me
Um pouquinho, um quase nada

Que meu toque sentiu e gostou
E a toda prova resiste

Platônica forma de atração
Que me insiste
Vou, mas não te largo
Voo e no voo

Te vejo nua
Do espaço

sábado, 10 de outubro de 2009

Oca

Segure a minha mão
O tempo já se exclúi
E não pude mudar minha decisão
Só não me morda

Mas segure forte, por que o mundo vai balançar
Não solte a minha mão
Ando pensando, aqui e ali
Se é o mundo um desencontro

Um planeta ou uma bola, que brilha
Uma estranha atmosféra, um vulto opaco, e um paraíso
Ruma incerta, e é o Sol que lhe segue

Se não se auto destrói
Vão tirar tudo debaixo da Terra
Traz cá pra cima, deixa oco, desconstrói

Inumeras guerras
Inúmeras danças
Inúmeras plantas

Esta tudo fora de controle, como eu gosto



set/09

A Soma dos Excluídos

No Rio que eu vivo
Eu vejo coisas que não entendo
No Rio do Rio mais real, que o Rio triunfal
Há o Rio do Rio que é podre, triste e mau

Há no Rio que descubro realidades que me doem
E matam o bem querer que há em mim
Há muito mais do que imaginas, se o Rio que lhe chega
É o das páginas das revistas, fantasiosa realidade, filha da puta e maldita

Rio, onde os trabalhadores merecem tiros
São pobres... e sonhadores de seus direitos, furtivos
Rio, que eu desejaria na minha mais maligna perversidade destruír
Seus políticos boçais e eternos, e policiais legitimados pelos infernos

Rio, preciso te dizer, Rio abaixo de meus pés
Seus filhos não se entendem, andam se matando, há uns poucos bons em fuga pelos bordéis
Capital mundial da putaria santificada, por igreja e mídia forçada, doem na cabeça sacrificada
Rio outrora belo, que enterres todo elogio nessa chorosa mágoa

Enquanto bater, chutar e forjar gostar de teus retíntos que se movem por trens
Vou querer fugir, e continuarei a odiar, os esquemas que tens
A beleza restrita a sua classe de auto-convícta nobreza, Rio, você acabou
Banal em violência e tragédias mórbidas, fique com seus zumbis errantes em inglórias

Que se atropelam, se desprezam, pequenas cabeças de merda pulsante
Não tolero nem mais um instante esse modo de vida, de achar desculpas para tudo
Arrogante, desejo-lhe um foda-se bem grande
A ti, e aos que não gostaram do que leram até o instante

Vivam pois, com suas sub-rações e pseudorezas, com suas ruas de lixo e de flores sem terras
Vivam boiando se sentindo numa quase paris.losangeles.lisboa.recife.londres
Que digo-lhe, não és, não tanges
Sei que não me expresso bem e que sou claro até demais, anseios duplos, os tais

Estudantes, governantes, intelectuais, artistas, pais de família, ignorantes marginais
Vou te buscar Rio, no mais profundo, tenso e sinistro, obscuro submundo
Onde dia após dia sua massa de heróis ruma, a sacodir, ao destino de trabalhar
Sem ver belezas, dinheiro, ou mínimo indício de orvalho

Abraçam-te Rio com os próprios braços
Não os de cimento, esse é gesto fácil
Mas com músculos que se esvaem ao tempo
Fibras do cansaço

Rio, não sei se você vai me entender
Mas o melhor de ti, está por se desvelar
Já existe, sufocado, quase morto sem ar
Afoga Rio, teus filhos imundos no teu mar

Afaga no peito, a soma
De teus excluídos
Que ruma obediente
E que insiste em te amar

09/10/09

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fazendo Nada

O poeta tem que ser solto
Tem que desgovernar pensamentos
O poeta tem que ser livre
Tem que desdizer o posto dito

O poeta tem que soltar os cães
Tem que multiplicar vãos tormentos
O poeta tem que confundir argumentos
Tem que amar e desamar

O poeta tem que se perder em fragmentos
Tem que engolir sentimentos

O poeta tem que escrever pra não ser lido
Tem que negar tudo que digo

O poeta tem que se acabar e acabar-se em si
Ou fazendo nada ou algo bonito

03/03/2009

domingo, 4 de outubro de 2009

Onde Me Levo

Se te quero
E se não quero
De um verbo
Sou incerto

E por onde me levo
Te quero perto

sábado, 3 de outubro de 2009

Animalzinho Errante

Vou me limitar a rastejar pelas ruas
A encontrar, sem medo, dicotomias tuas
Vou preservar meu tempo, ilusão maior meu momento
E gastar esforços para o que não vou ser

A quem quer que seja
Que me leia ou que me veja
To esperando um canto
Mas talvez não esteja vivo, nem seja humano, quem o diga, santo

E pois como estou, apático, inapto
Sinto que vomito por dentro de mim mesmo
Quero colo de irmã, e te ver nos sons de Amsterdã
Vou-me embora,mas fica você, aqui e agora

Vou indo, despedida não demora
Me espera anjo tão mais mortal, de uma outra pátria
Quero ir sozinho, sem destino, sem vanglória
Ir, pois há qualquer submundo que me espere

Travado, Outubro deflagra, meu cerne
Nove meses para que eu renasça em ventre próprio
Quero morrer de amor ou frio, vou e me crio
Mas não fico, para te ver de novo, em espelhos e reflexos

Estarei completo, entre abutres e lixos diversos
Não quero, seu mundo eu não quero
Daqui já vou indo, um tipo de animalzinho errante
Que só quer engolir o mundo e ver o tem adiante

01/10/09