domingo, 19 de abril de 2009

Janeiro do Rio

A Vila
À Teresa
A Santa
À Isabel

Os Blocos
As Escolas
De Rua
De Samba

O Baile
O Copa
A Cabana
O Funk

A Bossa
O Bota
A Nova
O Fogo

O Redentor
De Açucar
O Pão
De Cristo


A Cidade
O Complexo
De Deus
Da Maré

A Praça
Chinesa
E a Vista
Seca

A Laje
Do Brasil
O Parque
Central

A Beleza
É Imperial
E Natural
A Capital

O Poder
De Raiz
O Samba
Paralelo

E a Mata
E o Oceâno
Unicamente são de um Rio

Ao Tempo que
Atlânticos

Assim Eu Vou

Nascido no Brasil, criado no calor
Não veio preto, veio branco, mas que misturou
Cresceu no meio do samba, foi o pai que levou
Ainda na manhã da vida cantei pra Xangô
Mas que o mundo gira, e dali ele se mudou

Foi crescer solto, conhecendo mais de peixe, de fruta, de flor
Numa cidade pequenina, onde veio lua e o mar entrou
E foi ali que ele pousou, materno bangalô
Esqueceu do mundo, descalço o menino brincou

Deixou a vida se encontrar, em paraty que ele amou
Achou amigos, que mudaram o que eu sou
Cosmopólito fim de mundo, amor e arte herdou

Para cada casa que os olhos passou
Notou beleza, que o tempo deixou
Para cada pedra que pisou
Um amor que ele prendeu e um que ele soltou

Dança das fitas, bonita, brincou
Em Cirandas, cachaças, noites que derramou
No Carangueijo caiçara , tal ela, qual bela rodou
Na eletrônica, das praias, incríveis dias raiou

Mundo complexo, diferente, encarou
Saudade
Do povo, de casa
Amigo que foi cedo, chorou
Subindo em galhos, nadando com peixes, nunca acordou

Nas canoas, em Fortes Perpétuos
Calçadas que o mar lavou
Carnavais de máscara
De lama, de graça, um garoto piêrrot
De Festas Literais, poesias ao amor

Sobe e desce pipa do céu, nuvem pro mar
Ouro da serra, viola pro bar
Amor que nunca mais se vê
E que vive a se encontrar

Agora não tenho cana pra beber
Nem telas pra pintar
Agora não tenho tardes a te ver
Cidade do meu sonhar

Não tenho suas festas
Nem seus filhos
Ao meu passar

Agora... lembranças
E uma certeza

Paraty
Quero voltar

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Fugitivos Na Mata

Fugitivos na mata
Bebem água que chove agora
Faca, bala, substantivo de arma
Casa, roupa, constituintes de horas

Brasileiros em um sócio-exílio
Tais os pobres na megalópole
Pulsam em vida no silêncio da fome
Buscaram os muros de um castelo que vende o que se consome

Mas não nesse março, não era mês pra isso
Não esperaram a lua fazer contorno
Algo como de um místico agouro

Deitam agora na mata que lhes guarda
Olham essa noite, suas luzes e o eterno cristo
Descansam suas almas e agarram suas chances
Podem morrer numa tocaia se pisarem na avenida


Sonam na espreita da morte, bandida
Ruma moça, garimpando ipanema, solstícia
Os segue nos entornos, e os mantém aflitos, afoitos

Não sabem se verão mais outro sol se pôr
Se virá ainda um novo amor, vida a frente
Se terão o poder de mudar o que são
Ou será que tudo que são, foi mudado
Quando eles já não tinham opção

Pois o Rio, essa formosa babel, catalisa amedrontamentos
Me salva só Cartola, cantando momentos
De um violão de lamentos
Que me deixa vadiar noite adentro, a me ensinar
Que pudor nenhum vai subtrair o meu viver

Mas é um grunhido, um sem-nome, supôr estar lá nesse momento
Num reality show muito mais que real, dentro da selva tropical
Em fuga, reclusos à tarde, embaixo da chuva
O plano errado, do mundo errado

Plantados numa árvore, prontos para entrarem em cena
Copacabana de cinema
Tuas bandas, teus blocos
Tuas bundas, teus poemas

Teus latino-americanos de sub-renda
Princesa, de um povo auri-verde
Do ouro, que é o que buscavam, antes da fuga maldita
E do verde, que é o que acharam
Floresta de braços abertos, bendita

Problemas conectos
Por uma cidade-dilema, ambígua
Trai e ama, famélicos e cyber-céticos
Contornos de paisagens, antiéticos
Favelas de duração etérea
Onde nada é para sempre

Lições de um poder canibal
Onde não vejo o bem e o mal
Onde me mudo
Meu mundo
Onde quase surto

Numa virgindade papal
Numa castidade puta, irreal
Meu quebra-cabeças natal

É demais desigual
Tem seus filhos na mata infernal
Um labirinto sem começo e fim, natural
Me diz o que fará deles?

Te observo, passional


(30/03/09)