quarta-feira, 1 de abril de 2009

Fugitivos Na Mata

Fugitivos na mata
Bebem água que chove agora
Faca, bala, substantivo de arma
Casa, roupa, constituintes de horas

Brasileiros em um sócio-exílio
Tais os pobres na megalópole
Pulsam em vida no silêncio da fome
Buscaram os muros de um castelo que vende o que se consome

Mas não nesse março, não era mês pra isso
Não esperaram a lua fazer contorno
Algo como de um místico agouro

Deitam agora na mata que lhes guarda
Olham essa noite, suas luzes e o eterno cristo
Descansam suas almas e agarram suas chances
Podem morrer numa tocaia se pisarem na avenida


Sonam na espreita da morte, bandida
Ruma moça, garimpando ipanema, solstícia
Os segue nos entornos, e os mantém aflitos, afoitos

Não sabem se verão mais outro sol se pôr
Se virá ainda um novo amor, vida a frente
Se terão o poder de mudar o que são
Ou será que tudo que são, foi mudado
Quando eles já não tinham opção

Pois o Rio, essa formosa babel, catalisa amedrontamentos
Me salva só Cartola, cantando momentos
De um violão de lamentos
Que me deixa vadiar noite adentro, a me ensinar
Que pudor nenhum vai subtrair o meu viver

Mas é um grunhido, um sem-nome, supôr estar lá nesse momento
Num reality show muito mais que real, dentro da selva tropical
Em fuga, reclusos à tarde, embaixo da chuva
O plano errado, do mundo errado

Plantados numa árvore, prontos para entrarem em cena
Copacabana de cinema
Tuas bandas, teus blocos
Tuas bundas, teus poemas

Teus latino-americanos de sub-renda
Princesa, de um povo auri-verde
Do ouro, que é o que buscavam, antes da fuga maldita
E do verde, que é o que acharam
Floresta de braços abertos, bendita

Problemas conectos
Por uma cidade-dilema, ambígua
Trai e ama, famélicos e cyber-céticos
Contornos de paisagens, antiéticos
Favelas de duração etérea
Onde nada é para sempre

Lições de um poder canibal
Onde não vejo o bem e o mal
Onde me mudo
Meu mundo
Onde quase surto

Numa virgindade papal
Numa castidade puta, irreal
Meu quebra-cabeças natal

É demais desigual
Tem seus filhos na mata infernal
Um labirinto sem começo e fim, natural
Me diz o que fará deles?

Te observo, passional


(30/03/09)

2 comentários:

Isabel Zambrotti disse...

profundo...

Camila Grandinetti disse...

Lindo, Lindo de se ver, de se ler, de se ouvir....
me fez lembrar do meu trabalho... me fez imaginar roupas hehehehhe

adoro demais!!!!

beijos